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Imagens registradas por testemunhas mostram os danos imediatos após o colapso. O local onde os fiéis se acomodavam durante as missas ficou coberto por destroços, principalmente de madeiras que faziam parte do telhado.
"Todo o espaço central da igreja cedeu. Possivelmente, alguma parte dessa cobertura se rompeu e, com o peso desse espaço superior do teto, a madeira veio abaixo com o sobrepeso", afirmou Sósthenes Macedo, coordenador da Defesa Civil de Salvador (Codesal).
O acidente aconteceu em meio a visitação de turistas ao templo, que seguia aberto para roteiros mesmo com problemas estruturais há anos. O o custava R$ 10 por pessoa, mesmo valor que foi pago pelas vítimas.
A guia de turismo Meirelúcia Oliveira acompanhava um grupo de São Paulo e estava prestes a sair do templo, quando tudo aconteceu.
"Quando a gente já estava na porta [de saída], a igreja abriu um buracão. [A madeira] Veio descendo, arriando, eu gritei por misericórdia, saí por ali e a família arrombou a porta. Nós conseguimos sair, sobreviver", disse Meirelúcia ao g1.
Pessoas que aram pelo Largo do Cruzeiro de São Francisco relataram ter escutado um forte estrondo e tentaram ajudar os feridos.
Imagens feitas por testemunhas mostram os estragos logo após o desabamento. O espaço onde os fiéis ficavam durante as missas foi coberto por destroços, principalmente a madeira que cobria o forro da nave.
Giulia Panchoni Righetto tinha 26 anos e em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, mas morava na capital. Em Salvador, ela curtia com dois amigos e o namorado, que também estavam na igreja. Os homens não se feriram, pois estavam um espaço mais afastado.
A amiga da turista sofreu um corte na testa e foi levada para um hospital particular da cidade. Outras quatro pessoas, que não estavam com o mesmo grupo, foram atendidas na Unidade de Pronto Atendimento dos Barris.
O corpo de Giulia foi retirado por volta das 16h50 por profissionais do Departamento de Polícia Técnica (DPT), e foi encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal. o procedimento foi encerrado ainda na noite de quarta-feira e o cadáver está à disposição da família. Não se sabe ainda quando será feito o translado para o sepultamento.
O desabamento será investigado pela Polícia Federal. A Polícia Civil da Bahia também vai apurar o caso, através do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Em nota, a Polícia Federal informou que deslocou peritos e agentes para o local, a fim de realizar os exames iniciais, para "colher de forma célere e eficiente os primeiros elementos sobre o sinistro".
A Polícia Técnica da Bahia informou que uma equipe da Coordenação de Engenharia Legal do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto já esteve no local para iniciar o trabalho pericial, mas deve retornar na quinta-feira (6), para concluir os exames.
O DPT, responsável pelo IML, detalhou ainda que os laudos da necropsia e do local do crime têm prazo inicial de 10 dias para conclusão, podendo ser prorrogado conforme necessidade de realização de exames complementares.
Também na quinta, está prevista a visita de uma equipe técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), juntamente com o presidente do órgão, Leandro Antônio Grass Peixoto. O horário não foi divulgado até o fechamento desta reportagem. A Defesa Civil de Salvador interditou o templo após o ocorrido.
Na última segunda-feira (3), o frei Pedro Júnior Freitas da Silva, que ocupa a função de guardião-diretor da igreja, havia alertado o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre uma "dilatação" no forro do teto e pediu uma vistoria. A visita dos técnicos estava agendada para esta quinta (6).
Segundo o presidente do instituto, Leandro Grass, a solicitação da igreja foi feita pelo protocolo normal, que não é o caminho para o caso de uma urgência.
Conforme ele, se a igreja tivesse encontrado um risco urgente, a solução seria ligar para a Defesa Civil. "Se ele comunicou a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros, eu não sei dizer. Se, de fato, ele verificou alguma emergência. Se tivesse algum risco de estrutura, ele deveria que comunicar esses órgãos”, concluiu Grass.
O superintendente do órgão em Salvador, Hermano Guanaes, reforçou a falta de vistoria recente durante entrevista à TV Bahia.
"A vistoria não acontece todos os dias. É preciso que haja um problema detectado. Quando há um problema é que nós somos chamados para participar também, porque não é uma questão que envolve só a competência de patrimônio, mas também outros órgãos, que também cuidam. Então, como qualquer tipo de acidente, você não prevê que ele vá acontecer assim, dessa forma", afirmou.
O diretor da Defesa Civil de Salvador, Sósthenes Macedo, reforçou que o poder público sabia que havia algumas partes comprometidas na estrutura, contudo, sem riscos de desabamento, por isso o espaço não estava interditado.
"Já tivemos, inclusive, um ado episódio aqui com o pináculo, que ficou por um tempo gerando risco. Foi feita uma operação em conjunto, foi retirado o pináculo, dando a liberdade do uso. Agora, é claro que todas essas edificações, principalmente as mais antigas, têm que estar em dias com a lei de manutenção predial para que episódios como esse não se repitam", destacou.
Já o coronel Adson Marchesine, comandante do Corpo de Bombeiros Militares da Bahia, classificou o episódio como uma "surpresa". "Estava já tendo um projeto de reforma na igreja, mas não chegou ao conhecimento do Corpo de Bombeiros a necessidade de interditar o local. Realmente foi um fato surpresa, foi uma tragédia", declarou.
Em nota ao g1, o Iphan disse que a responsabilidade pela estrutura é da Ordem Primeira de São Francisco. Todavia, por se tratar de um patrimônio histórico, o órgão faz restaurações e dá auxílio técnico.
"O imóvel é de propriedade da Ordem Primeira de São Francisco, responsável direta pela gestão e manutenção da edificação. O Iphan, enquanto órgão de proteção do patrimônio cultural brasileiro, tem atuado na preservação do bem, com ações como o restauro dos painéis de azulejaria portuguesa, concluído em maio de 2023, e a elaboração do projeto de restauração do edifício, atualmente em andamento", diz trecho da nota emitida.
O responsável pela igreja não se posicionou tecnicamente a respeito. No perfil oficial no Instagram, o templo lamentou o ocorrido "com profundo pesar", em nome da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil e da Comunidade Franciscana da Bahia.
"Neste momento de imensa dor, unimo-nos em oração pela vítima fatal, por seus familiares e por todos os atingidos por essa tragédia. Os feridos estão recebendo os cuidados necessários, e as autoridades competentes já foram acionadas para investigar as causas do ocorrido e adotar as providências cabíveis para garantir a segurança do local".
Já a Arquidiocese de Salvador informou, em nota, que, "diante do lamentável acidente", manifesta a "mais profunda solidariedade" com a Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, Ordem dos Frades Menores (OFM), e com as vítimas e famílias delas.
"O patrimônio histórico ora afetado é de valor inestimável para a humanidade - Patrimônio Mundial pela UNESCO, para o Brasil e para a Igreja. Testemunho da fé de um povo e, dos Frades Franciscanos Menores, em particular, que por mais de três séculos se empenham na preservação desta obra nascida da fé", diz o posicionamento.
A igreja de São Francisco de Assis, no Centro Histórico de Salvador, é considerada por especialistas em arte sacra como uma das mais imponentes da América Latina. Com interior revestido em ouro, o templo fundado no início do século 18 foi tombado como patrimônio material do Brasil. Porém, o reconhecimento do governo federal, que deveria garantir a proteção ao espaço, não impediu a construção de atingir uma situação degradante.
Considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, a igreja, que é integrada ao convento dos frades franciscanos, enfrenta problemas estruturais há anos. Durante uma visita, o g1 observou que o local estava com pinturas e teto desgastados, pilastras sem reboco e piso desnivelado em vários pontos.
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