
O cantor Ney Matogrosso, que completa 82 anos nesta terça-feira (1º), é reconhecido como um grande intérprete da música brasileira. Seu timbre raro de contratenor marca presença no cenário cultural há 50 anos, desde que surgiu como vocalista do lendário grupo Secos & Molhados. O que pouca gente sabe, no entanto, é que Ney também chegou a se aventurar como compositor.
No álbum "Bugre", de 1986, o artista assina duas composições: "Dívidas de Amor", ao lado de Leoni; e "Vertigem", em parceria com Fernando Deluqui, Luiz Schiavon e Paulo Ricardo, do RPM. A imprensa da época registra que as letras surgiram das anotações feitas pelo artista em seus cadernos.
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"Eu escrevo para mim. Às vezes muito, às vezes o seis meses sem escrever nada. Para botar estas letras no disco tive que tirar uma carteira de compositor. Não creio que venha a me dedicar a este tipo de coisa. Pode acontecer, ocasionalmente", disse Ney ao jornal A Tribuna, em junho de 1986. De fato, as duas composições vieram a ser os únicos registros de letras feitas pelo artista, pelo menos até agora.
Confira:
"Dívidas de Amor" (Leoni/Ney Matogrosso)
"Vertigem" (RPM/Ney Matogrosso)
A estreia como compositor foi apenas parte de um momento repleto de experimentalismo na trajetória de Ney. Em 1985, o artista fez a direção do megassucesso "Rádio Pirata Ao Vivo", show do grupo RPM, e participou do projeto "Luz do Solo", com Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Rafael Rabelo. No mesmo ano, ele ainda estreou como ator no filme "Sonho de Valsa", dirigido por Ana Carolina, e foi uma das atrações do primeiro Rock In Rio.
O álbum "Bugre" veio em 1986 para coroar essas transformações. Além das já citadas canções autorais, o disco traz a célebre regravação de "Balada do Louco" (Rita Lee/Arnaldo Baptista/Sérgio Dias) e a presença do vanguardista Arrigo Barnabé nos arranjos da faixa-título (Luli/Lucinha). A sonoridade mais soturna, baseada em instrumentos eletrônicos, tem momentos solares em canções como a rumba "Las Muchachas de Copacabana" (Chico Buarque) e o samba-enredo "História do Brasil" (Jorge Aragão/Nilton Barros).
"Em Bugre, agora, eu posso arriscar muito mais tranquilamente, depois de todo o sucesso, mas sei que é um disco para ser ouvido muito mais do que para ser dançado. Por outro lado, é um trabalho mais equilibrado", disse Ney à revista Manchete.